24 de outubro – São Luís Guanella
A vida de Guanella, como a de Dom Bosco, também foi traçada por um sonho que aconteceu quando ele tinha nove anos, no dia de sua Primeira Comunhão: uma Senhora (como ele definiu Nossa Senhora em sua narração) mostrou-lhe tudo o que ele deveria fazer em favor dos pobres. Desde a infância, a sua vida foi uma longa busca para estar presente onde quer que houvesse um pedido de ajuda e um resgate a ser oferecido. Luís Guanella nasceu em Fraciscio, vilarejo do município de Campodolcino, diocese de Como, em 19 de dezembro de 1842. No dia seguinte, recebeu o sacramento do Batismo.
Seus pais, Lourenço e Maria Bianchi, eram cristãos exemplares, dedicados à família, ao trabalho no campo e ao pastoreio. Na família era costume não só recitar o Santo Rosário, como também ler a vida dos santos, uma experiência que caracterizava a atividade apostólica de sua vida. Seu pai, Lourenço, que fora prefeito de Campodolcino durante 24 anos, sob o governo austríaco e, depois, na unificação da Itália (1859), era severo e autoritário, enquanto sua mãe Maria Bianchi era gentil e paciente; dos 13 filhos, quase todos chegaram à idade adulta. Aos doze anos, Luís obteve um lugar gratuito no colégio Gallio de Como e, depois, continuou os estudos nos seminários diocesanos (1854-1866).
Sua formação cultural e espiritual foi aquela comum aos seminários da Lombardia e do Veneto, durante muito tempo sob o controle de governantes austríacos. O curso teológico era pobre de conteúdo cultural, mas atento aos aspectos pastorais e práticos: teologia moral, rituais, pregação, assim como a formação pessoal de piedade, santidade e fidelidade. A vida cristã e sacerdotal era alimentada pela devoção comum entre a população cristã. Esta base concreta colocou o jovem seminarista muito próximo do povo e em contato com a vida que levava. Quando retornava ao vilarejo para as férias de outono, mergulhava na pobreza dos vales alpinos; interessava-se pelas crianças e pelos idosos e doentes do vilarejo, ajudando-os em suas necessidades. Nos retalhos de tempo, apaixonava-se pela questão social, recolhia e estudava ervas medicinais e lia sobre a história da Igreja.
No seminário teológico ele conheceu o Bispo de Foggia, Bernardino Frascolla, que foi preso em Como e depois forçado a viver no seminário (1864-66), e percebeu a hostilidade que dominava as relações entre o Estado Unitário e a Igreja. Este bispo ordenou o P. Guanella sacerdote em 26 de maio de 1866. Naquela ocasião o P. Guanella disse: “Quero ser uma espada de fogo no sagrado ministério”.
O novel sacerdote entrou entusiasticamente na vida pastoral em Valchiavenna (em Prosto, 1866 e em Savogno, 1867-1875). Desde o início em Savogno, revelou seus interesses pastorais: a educação de crianças e adultos, a elevação religiosa, moral e social dos paroquianos, a defesa do povo das agressões do liberalismo e a atenção privilegiada aos mais pobres. Não evitou as intervenções combativas, quando se viu injustamente contido ou contrariado pelas autoridades civis em seu ministério, de modo que logo ficou marcado entre os indivíduos perigosos (lei das suspeitas), especialmente após a publicação de um livreto polêmico. Enquanto isso, em Savogno, ele aprofundou seus conhecimentos sobre Dom Bosco e o trabalho do Cottolengo; chegou a convidar Dom Bosco para abrir um colégio interno no vale.
Desejoso de uma experiência religiosa mais radical, em 1875 foi até Dom Bosco em Turim, fazendo sua profissão temporária na Congregação Salesiana. Em seus dois primeiros anos como salesiano, foi diretor do Oratório São Luís no bairro San Salvario em Turim, enquanto em novembro de 1876 foi encarregado de abrir um novo oratório em Trinità di Mondovì. Em 1877 foi encarregado das vocações adultas, que Dom Bosco havia chamado de “A Obra dos Filhos de Maria”.
Sua admiração por Dom Bosco estava profundamente enraizada também em seus temperamentos, muito semelhantes: empreendedores, apóstolos da caridade, decisivos, autorizadamente pais e com um grande amor pela Eucaristia, por Nossa Senhora e pelo Papa. A espiritualidade e a pedagogia salesiana foram um elemento básico na formação e na missão do futuro fundador. À escola de Dom Bosco ele aprendeu a abordagem amorosa e firme aos jovens e o desejo educativo de prevenir em vez de curar; e o desejo de salvar seus irmãos e irmãs com o impulso de uma grande caridade apostólica.
O bispo de Como chamou-o de volta à diocese e o P. Guanella voltou com o sonho de fundar uma instituição para acolher crianças carentes. Abriu uma escola que mais tarde precisou fechar por causa da hostilidade das autoridades civis. A “hora da misericórdia”, como o P. Guanella chamava o momento propício do favor divino, ocorreu em novembro de 1881, quando chegou como pároco a Pianello Lario, onde encontrou um grupo de jovens dedicadas a ajudar os necessitados. Esse grupo seria a nascente da nova congregação: as Filhas de Santa Maria da Providência.
O zelo e a caridade apostólica do Padre Luís fizeram crescer o trabalho caritativo podendo expandir-se para o coração da própria cidade de Como. Tiveram início as atividades da “Casa Divina Providência”, que mais tarde seria a casa mãe das duas congregações, feminina e masculina. Juntamente com os pobres, aumentou o número de braços e corações para ajudá-los e amá-los. Ao lado da congregação de Irmãs, o P. Guanella também reuniu um grupo de sacerdotes que se chamaram de “Servos da Caridade”. Guanella repetia frequentemente durante a sua peregrinação pelas chagas da pobreza: “Não se pode parar enquanto houver pessoas pobres a socorrer”. Como resultado, as duas congregações religiosas se espalharam por várias regiões da Itália e, na Confederação Suíça vizinha, pelo cantão dos Grisons e pelo cantão Ticino.
Em 1904 Luís Guanella realizou o seu sonho de chegar à Cidade Santa, Roma, para estar perto do Papa e demonstrar sua fidelidade à Igreja através de um brilhante testemunho de caridade e ardor apostólico. O Papa Pio X, que compreendera a grandeza de espírito do Padre Guanella, estimou-o e confidenciou-lhe o desejo de construir uma igreja dedicada ao Trânsito de São José. A Pia União do Trânsito de São José, uma associação de oração pelos moribundos, foi fundada ao lado da paróquia. São Pio X queria ser o primeiro de seus membros. O zelo missionário do Guanella levou-o à América do Norte entre os emigrantes italianos. Em dezembro de 1912, aos setenta anos, o P. Guanella embarcou para os Estados Unidos.
A última intervenção extraordinária na vida do P. Guanella ocorreu em janeiro de 1915, quando ele quis ficar em Roma para ajudar as vítimas do terremoto nos Abruzzo. O Venerável Aurélio Bacciarini, primeiro pároco de São José, trabalhou com zelo ao seu lado, sucedendo-o no governo da Congregação dos Servos da Caridade e depois chamado ao ministério episcopal na diocese de Lugano, na Suíça. Os achaques da velhice, a entrada da Itália na Primeira Guerra Mundial e a obrigação de alguns irmãos no front militar prejudicaram a sua saúde. Em seus escritos, o P. Guanella deixara esta mensagem: “A morte é como uma mãe que abraça o seu filho […], é o anjo que reconduz à pátria”. Aquela mãe, brilhando como um anjo, abraçou-o às 14:15 do domingo 24 de outubro de 1915. E foi um domingo sem ocaso.
Padre Guanella e Dom Bosco, ambos sacerdotes e grandes amigos, viveram em uma época marcada por profundas transformações e desequilíbrios sociais; agiram como apóstolos da caridade e passaram a vida toda comprometidos com a salvação de cada homem e de todos os homens, e com a construção de uma sociedade melhor. A profunda ligação entre os dois e a devoção do P. Guanella a Dom Bosco tornaram-se famosa por uma oração que o P. Guanella escreveu em sua revista mensal, “La Divina Provvidenza”, em agosto de 1908: “A grande alma de João Bosco, que protege grandemente a Congregação de seus filhos, os Salesianos, já tão numerosos que não podem ser contados, dirija gentilmente o seu olhar para os Institutos da Divina Providência, e benevolamente estenda sua proteção a todos aqueles que pertencem a estas obras e especialmente ao seu devoto admirador e aluno. Sacerdote Luís Guanella”.
Por ocasião de sua canonização, o Papa Bento XVI lembrou que: “Graças à união profunda e incessante com Cristo, na contemplação do seu amor, P. Guanella, orientado pela Providência divina, tornou-se companheiro e mestre, conforto e alívio dos mais pobres e dos mais frágeis. O amor de Deus animava nele o desejo de bem para as pessoas que lhe eram confiadas, na realidade da vida quotidiana. […] A atenção cuidadosa ao caminho de cada um, respeitando os seus tempos de crescimento e cultivando no coração a esperança de que cada ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, saboreando a alegria de ser amado por Ele — Pai de todos — pode tirar e doar aos outros o melhor de si mesmo. Hoje, queremos louvar e dar graças ao Senhor porque em são Luís Guanella nos ofereceu um profeta e um apóstolo da caridade. […] Podemos resumir toda a sua vicissitude humana e espiritual com as últimas palavras que ele pronunciou, no leito da morte: In caritate Christi. É o amor de Cristo que ilumina a vida de cada homem, revelando como no dom de si ao próximo nada perdemos, mas realizamos plenamente a nossa verdadeira felicidade”.
Venerável em 6 de abril de 1962; beatificado por São Paulo VI em 25 de outubro de 1964; canonizado por Bento XVI em 23 de outubro de 2011.